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Vetor Entrevista: Aya Ibeji

Aya Ibeji “bota a cara no mundo” com seu primeiro EP: Após dominar os mais diversos lineups da cena paulistana, Aya Ibeji também arromba portas como produtora autoral, lançando seu primeiro EP, “Ibeji”

Texto e entrevista por Pedro Paulo Furlan.



São Paulo, 14h. Em primeiro momento, minha call com a DJ e produtora Aya Ibeji deveria acontecer na quinta-feira, às 21h, no entanto, de última hora, ela foi convidada para tocar em uma festa - “sorte que eu já estava com o pendrive”. É assim a rotina de um dos nomes em maior ascensão na cena underground paulistana, são cada vez mais convites, de maneira Aya tem que estar sempre pronta para esses “imprevistos”.


Falando sobre seu primeiro EP lançado oficialmente, o “Ibeji”, Aya conta um pouco sobre o que fez ela decidir produzir agora: “Esse é mais um EP sem um propósito. Foi tudo uma coisa para me divertir mesmo, não levar tão a sério, e sair o que tinha que sair”.


“O EP veio esse ano, de uns três meses para cá”, conta Aya Ibeji, explicando que a criação do projeto foi algo mais solto, menos elaborado, movido pela vontade que ela tinha de colocar suas produções autorais no mundo. Com três faixas, “T.OMA.EH”, “BU.BBL.EHZ” e “RE.SIS.T.E.NCI.A”, o “Ibeji” foi lançado em junho desse ano, abrindo as portas para Aya.


Chamando o seu amigo e também produtor musical Kue para participar de uma das faixas, o primeiro EP de Aya Ibeji a ser disponibilizado nas plataformas digitais serve como uma apresentação da DJ e produtora. Juntando beats de afrohouse, elementos do funk carioca, do paulista e do mineiro e club music, “Ibeji” introduz as referências atuais da artista.


“O ‘Ibeji’ veio nessa vontade de lançar mesmo, para o pessoal já saber que eu produzo, para já estar na boca do povo, para já saberem quem eu sou”.

Da disco ao house, do house ao club, sempre embalando as pistas


Originalmente do Rio de Janeiro, Aya começou a tocar em 2019, após conhecer o ciclo de festas da capital carioca. Assim que ela teve a ideia de se tornar DJ, o projeto Escola de Mistérios abriu no Rio, organizando festas e oferecendo oficinas de discotecagem até hoje - “foi onde me ensinaram a mexer na CDJ, a passar música para o pen-drive”.


“Em todas as festas que eu ia, a música nunca chegava no auge de, tipo assim, me fazer sentir. Essa foi uma das motivações, queria movimentar, fazer as pessoas dançarem”.

Assim que começou a tocar, embalando a noite carioca por um curto período, a primeira paixão de Aya foi a música disco, trazendo diversas tracks dos anos 80, 90, para as pistas. No entanto, quanto mais ela foi estudando e pesquisando, mais ela empilhou suas influências e diversificou seu set, procurando ampliar o que ela tocava.


Foi assim que ela encontrou o house, “é um som que me pega muito, porque me sinto muito feliz, viva” - a DJ e produtora me explica, inclusive, que essa importância é ainda mais profunda para ela. Como mulher preta, Aya Ibeji dedicou-se ao house devido a se ver refletida nas vozes que embalam o gênero.


“As vozes são pessoas negras cantando, expressando toda a existência delas. Sinto que isso me dá muita força para eu continuar sendo quem eu sou  - além de possibilitar que outras vejam que é possível, do mesmo jeito que vi que era possível para mim”.


Durante nossa conversa, eu lembro do set dela na Ultraffair, festa que rolou em São Paulo. Em um B2B com o DJ Mirands, fundador da Batekoo, uma das maiores plataformas de cultura negra na cena underground, Aya mesclou house, disco, vogue beat e club music, inclusive trazendo tracks de amizades suas, como o remix de “99 Problemas”, das artistas Podeserdesligado & Nãovenhasemrosto.


Unindo suas diversas influências, a produtora e DJ sente que “hoje consigo fazer uma coisa muito mais fluída, contar uma história no set” - criando mesmo uma sonoridade que seja inegavelmente Aya. Essa busca por um som só seu também foi algo que a levou à produção autoral, apresentando algumas de suas facetas em “Ibeji”.


“Juro, são só as selecionadas”


Após se mudar para São Paulo em 2020, Aya Ibeji chegou no meio de uma pandemia, ou seja, demorou um pouco para ela adentrar a cena underground mesmo e, dessa maneira, para ela apresentar seu som para o público paulistano. Mas, isso possibilitou que ela trabalhasse mais nas suas produções autorais - e ela lançou seu primeiro EP no SoundCloud nessa época, “onde tudo não termina”.


“Cheguei na pandemia, em 2020, e cheguei não vivendo nada”, conta ela, afirmando que seu momento de entrada na cena veio depois de um tempo - tempo que ela aproveitou para se aproximar de diversas pessoas no underground. Ainda assim, com amizades e conexões, esse primeiro ingresso foi algo difícil, “são só as selecionadas às vezes”


“Ao mesmo tempo que a gente precisa de uma oportunidade para viabilizar nosso trabalho, as pessoas tratam a gente com muito descaso”, aponta Aya sobre a sua presença na cena enquanto travesti.


Crescendo cada vez mais, Aya me conta que percebe o mesmo acontecer com novas pessoas que estão buscando entrar no underground, delineando as divisórias que existem. Falando sobre transfobia, misoginia e até mesmo racismo nos ambientes de festas, a produtora e DJ aponta as dificuldades que já enfrentou, especialmente com o público gay cis.


“Sinto que é muito um ódio gratuito da figura feminina. Ou eles te chamam de musa, diva e você está num pedestal para eles, ou você é uó, te odeio, e daí é mal-educado, pisa, empurra”.

“Falta o agir, fazer”, responde Aya quando pergunto sobre quais os próximos passos para criar uma cena que abraça melhor pessoas trans, pessoas pretas. “Abrir portas para todo mundo, isso que falta, não é selecionar quem você já ama, quem você já gosta, é dar oportunidades para todo mundo”, diz.


Aya pós-”Ibeji”


Com esse lançamento de seu primeiro EP oficial, fica a pergunta, quais os próximos passos de Aya Ibeji. Para o questionamento, a produtora e DJ já tem sua resposta clara: cada vez mais música - seja no formato de sets ou projetos autorais.



Ainda esse ano, Aya me conta, ela pretende lançar mais um EP, com a participação de sua amiga, a produtora Podeserdesligado. Com cinco faixas solo, além dessa parceria, o novo projeto da artista deve chegar às plataformas entre esse mês e setembro.


Para Aya Ibeji, essa participação de diversas amizades em sua carreira autoral é um dos aspectos da criação que mais a motivam - “ver cada vez mais gente abrindo essas portas, eu, minhas amigas, meus amigos, isso me dá muita energia”.


“Estou amando muito, todo mundo está dando esse start para as coisas serem possíveis e se tornarem reais, jogarem no mundo, assim”. 

Finalizando nossa conversa e os spoilers, Aya também revela que está planejando o lançamento de um dos seus maiores projetos para o ano que vem: seu primeiro álbum de estúdio. “Esse estou indo bem devagar porque quero que saia bem perfeito”, afirma ela, apontando que o disco vai ter mais faixas que seus dois EPs.


“Quero lançar um álbum mesmo, até 2025, quero lançar um álbum completo - fazer uma coisa bem estrela do pop, 10 músicas, sabe?”.record - do something like a real popstar, 10 or more tracks, you know?”.

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