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Vetor Entrevista: Danny Bond

Danny Bond traz o “megazord travesti” para o funk. Se juntando às Irmãs de Pau, estrelas do underground, Danny Bond mergulha no funk pesadão em seu novo projeto, renascendo como uma nova artista


Texto e entrevista por Pedro Paulo Furlan

Fotografia por Gustavo Delgado


São Paulo, 16h. Vestida com uma jaqueta branca, botas até as coxas e um vestidinho, tudo monocromático, Danny Bond parece a imagem perfeita de uma popstar - nada inesperado para alguém que está há quase 10 anos dominando a cena. Enquanto arrumam seu cabelo e retocam sua maquiagem, pergunto para ela sobre como ela está se sentindo em relação ao seu novo projeto, o “EPica2 Deluxe”.


“Estou muito feliz, sabe?”, responde ela, acrescentando: “Não conseguia mais ficar longe da música, longe dos palcos”


A verdade é que, antes do lançamento de “EPica2” no final do ano passado, Danny passou um bom tempo longe da indústria por motivos complexos - voltando a todo vapor com o sucesso estrondoso de “Cachorra Absurda”, que já conta com mais de 7 milhões de streams, e agora com a versão deluxe de seu novo álbum.


Entre risos e momentos de seriedade, Danny senta comigo para gravar alguns vídeos para a Vetor, além de responder algumas perguntas sobre o novo projeto. No “Deluxe”, a artista se fez presente em todas as etapas do processo, desde a composição, paixão principal de Danny, até a produção musical, seção sobre a qual ela aprendeu muito nesse álbum.


Decidindo por uma sonoridade de funk mais pesado, inspirada tanto por ouvir funk desde criança, tanto pelo som das festas da cidade onde ela mora hoje em dia, São Paulo, Danny Bond acrescentou cinco músicas ao projeto original, inclusive o carro-chefe do lançamento: a tão esperada parceria entre ela e as Irmãs de Pau, “CHACINA”.


“Foi a união desse megazord de travesti, a união dos nossos corpos”.


Fotografia por Gustavo Delgado


“É a Danny Bond, não dá para ser igual”


Originária da favela de Jacintinho, em Maceió, capital alagoana, Danny Bond estourou na cena LGBTQ com seu primeiro álbum “EPica”, em 2017, trazendo sucessos como “Tcheca”, “Meu nome é Bond” e “Prikito”, que tocam até hoje. Desde sempre, uma coisa ficou clara, “tem coisas que só a Danny Bond tem coragem de cantar”, aponta a mesma.


“Todo mundo já faz música com bunda, com raba, com joga”, conta Danny sobre como foi a composição das suas primeiras músicas: a Danny Bond precisa ser diferente das outras”. Foi essa coragem, unida com seu flow direto e abrasivo, que encantou o público numa época em que as músicas explícitas não chegavam nesse nível.


Foram as memórias desse tempo, além do pedido incessante dos fãs - os “vagaBonds” - para trazer de volta a “Danny do antigo testamento”, que incentivou a artista a desenvolver o “EPica2”, que, em primeiro momento, era uma coletânea de músicas antigas, já conhecidas pelos fãs, mas, que nunca haviam sido oficialmente lançadas.


No entanto, foi uma das faixas completamente inéditas que bombou. “Cachorra Absurda”, a parceria entre Danny e MC Naninha, com produção de PZZS, um dos nomes em destaque atualmente na cena underground do Rio de Janeiro, foi um hit direto, acumulando milhões de streams, entrando em playlists de músicas virais e levando Danny ao patamar de segunda travesti mais ouvida no Spotify, plataforma de streaming mais usada no Brasil.


Fotografia por Gustavo Delgado


“Se vamos fazer um funk, vamos fazer um funk bem feito, e aí foi quando meu produtor me apresentou o PZZS”, conta Danny Bond sobre o processo de criação do “EPica2”: Ele é a chave desses dois álbuns, ele que construiu os beats comigo, produziu todo o babado comigo, então, é graças a ele”.


Com o sucesso de “Cachorra Absurda”, a artista, que já queria fazer uma versão deluxe do álbum, recebeu toda a confirmação que precisava. Mergulhando de cabeça nesse funk mais pesado, mais eletrônico e mais underground, a artista desenvolveu uma música pensando só nas Irmãs de Pau, e produziu mais quatro que se encaixavam na vibe.


“Lembro que eu estava no avião e criei o refrão da música, indo para o Bloquíssimo, em Natal, onde elas iam se apresentar também - mostrei para elas lá e elas amaram de cara”, relata Danny, contando a primeira interação que levou a “CHACINA”.


“O importante é a gente estar se divertindo”


Fotografia por Gustavo Delgado


Entre 2023 e o ano passado, Danny Bond me conta que sofreu um golpe de uma pessoa muito próxima em sua carreira e, por isso, não sabia se iria conseguir continua com o seu sonho: a música. Creditando seu atual produtor, a artista explica que foi com base em sua nova equipe e nova comunidade que conseguiu se reerguer.


Nesse novo momento de sua carreira, Bond expressa gratidão total pelo novo sucesso e por ter essa abertura para conseguir planejar o seu futuro como artista: “Realmente foi algo que ou eu desistia da minha carreira, ou eu lançava esse projeto, foi algo muito forte para mim, mas, deu tudo certo, foi só vitória”.


Sempre inspirada pelas suas origens em Maceió, cidade de onde é comendadora, Danny explica, inclusive, que enquanto a sonoridade de “EPica2 Deluxe” seja mais voltada para o seu momento atual em SP, a voz de Danny Bond sempre será alagoana - e essa cultura vai estar sempre presente nos seus projetos.


“Acho que isso nunca vai sair de mim, nunca vai sair do meu sangue”, comenta ela, “Converso com os meus amigos de lá todos os dias, do Jacintinho, e eles são as minhas inspirações, quando vou para Maceió, sugo tudo que eu posso da cultura para trazer nas minhas músicas e botar para o mundo”.


Delineando essa importância de representar Maceió, Danny também destaca a importância de sua representação enquanto travesti preta. Com “CHACINA”, seu “megazord travesti”, a artista, inclusive, me conta que vê muito a importância política dessa música, especialmente no quesito de expressar essa diversão inegavelmente trans.


Para fechar nosso papo, pergunto para Danny diretamente sobre isso, sobre a importância de criar arte que permita que a comunidade se divirta. Abrindo seu coração sobre a comunidade e sobre as festas que marcam a vivência LGBTQ+, a rapper, cantora e compositora declara que, para ela, com suas músicas, “o importante é a gente estar se divertindo”.


“Lancei esse álbum literalmente para isso, para a galera ter onde se divertir, ter onde gritar, beijar na boca, o importante é a gente estar se divertindo”.




 
 
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