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Vetor Entrevista: Katy da Voz

Rebeldia, sexo e palavrões: Katy da Voz encontra o punk no funk 

Com batidas eletrônicas, letras agressivas e performances teatrais, Katy da Voz tem criado sua marca no underground brasileiro, com as Abusadas ao seu lado


Texto e entrevista por Pedro Paulo Furlan.


São Paulo, 12h. Um dos maiores nomes em ascensão no underground brasileiro, Katy da Voz, senta comigo para nossa entrevista. Em meio a um ano repleto de conquistas, a vocalista do grupo de funk Katy da Voz e As Abusadas, formado por ela, Palladino Proibida e Degoncé, começa traçando sua trajetória desde o nascimento de seu nome, em 2012.


“Tudo começou em 2012, no show da Lady Gaga. As bichas ficavam falando que eu parecia a Katy Perry, e a gente tinha essa coisa de chamar cada uma de uma diva pop”, ela conta.


Originalmente criado como um nome para o Instagram, Katy da Voz nasceu com uma mistura de humor e amor pela cultura pop que combinaria perfeitamente com a carreira artística que Katy construiria nos anos seguintes. Inclusive, quatro anos depois foi quando ela deu seu primeiro passo na noite paulistana.


Candidatando-se a uma vaga de pistoleira em uma boate em São Paulo (“Queria muito trabalhar nessa boate, queria muito dar bebida na boca do povo e tal”), Katy da Voz lançou sua primeira música como parte da competição. Adotando o nome MC Katy da Voz e conseguindo a vaga, a artista abriu seu próprio caminho dentro do universo noturno.


Agora, quase seis anos depois desses primeiros passos, Katy da Voz está se solidificando como um dos maiores nomes do underground brasileiro. Acompanhada por Palladino e Degoncé, as Abusadas estão tendo um 2024 de muito sucesso, subindo ao palco do Hopi Pride, atingindo mais de 100 mil streams em seu hit “VTNC” e com um novo álbum de remixes para sair.


Uma “diva pop”, no funk


Originária da periferia da Zona Sul de São Paulo, especialmente do bairro Grajaú, Katy da Voz cresceu com o funk como parte de seu dia a dia. Ao lado de Beyoncé, Lady Gaga e Katy Perry, a vocalista lembra de ouvir Tati Quebra Barraco, Marisa Pecadora e MC Katia, resgatando essas influências ao decidir seguir carreira artística.


“Sempre senti que eu queria ser uma artista, assim, uma diva pop, sabe?”, Katy da Voz relata:

“Mas acho super importante trazer essa cultura do funk que é minha, da minha vivência, cresci ouvindo funk, cresci indo para o baile”.

Crescendo aos poucos na cena noturna, após conseguir a vaga de pistoleira, a artista, que se descrevia como “uma bicha afeminada” na época, foi empilhando experiências, adentrando no mundo drag e conseguindo mais e mais contatos. Katy me conta, inclusive, que foi esse momento de se afundar na noite que garantiu o sucesso que viria.


Em 2019, ela decidiu sentar suas amigas de infância, Degoncé e Palladino Proibida, e sugerir que elas formassem um grupo musical. Segundo Katy, a ideia veio de assistir aos talentos de ambas - destacando a proficiência de Palla, como ela a chama, como compositora, e de Degoncé como dançarina.


“A Palladino compõe muito bem, ela consegue desenrolar muito bem, a Degoncé sempre sonhou em dançar e ser vista, então pensei que a gente podia formar um grupo - e elas toparam assim de cara”.

“A gente sempre quis, primeiro, cantar muita putaria e muito palavrão”, Katy diz, dando um risinho, e foi assim que nasceram as composições do Katy da Voz e As Abusadas. Em parceria com Palladino, Katy desenvolveu uma maneira de contar a vivências das três enquanto travestis, mas, sem perder “a arte da putaria”, característica do funk.


Com sucessos como “Rola Grossa, Que Gostosa!”, “VTNC” e, mais recentemente, “Sensação De…”, com as Irmãs de Pau, o grupo tem tomado a cena underground como uma tempestade, viajando pelo Brasil inteiro, aparecendo nas mais diversas festas e fazendo sua marca, especialmente, com suas performances únicas e teatrais.



“Estamos fazendo shows em lugares em que ninguém conhece a gente, então temos que chocar e chamar atenção de alguma forma”


“A gente sempre gostou dessa coisa de chamar atenção”


Munidas de um saxofone, tripé, meia-lua e até um pinto de borracha, Katy da Voz e As Abusadas são também conhecidas por suas performances - que levam a música a outro nível. Unindo teatralidade com certa agressividade, os shows se transformam em momentos para realmente chamar a atenção da plateia.


A primeira vez que assisti a um show do grupo foi no ano passado, durante uma festa de Halloween, na qual Katy da Voz entrou no palco em uma maca, como se estivesse possuída, e foi isso que encarnou no restante da performance. Pendurando-se nos pilares, simulando um boquete com o pinto de borracha, “Foi muito chique aquela noite”, me diz Katy.


Combinadas com suas músicas repletas de palavrões e muita putaria - um aspecto importantíssimo para as três Abusadas - as performances fazem do show uma manifestação política também.


“Nós somos três travestis, batendo de frente, e cantando tudo isso sem medo. As pessoas ainda se chocam muito vendo tudo isso, se chocam porque somos travestis fazendo isso”.


De calcinha e tapa-sexo cobrindo seus mamilos, Katy da Voz se coloca numa posição de destaque em cima do palco. Berrando “Vai tomar no cu” e “Vai se foder”, a artista toma o local de fomentadora da cultura do funk, fazendo, nas suas próprias palavras, “o mesmo que muita gente está fazendo também”, a única diferença sendo sua identidade.


Dessa maneira, a própria existência do grupo assume um aspecto meio punk, como Katy da Voz afirma, trazendo perspectivas e vivências travestis e muita rebeldia. “O punk é realmente sobre tudo aquilo que a gente está fazendo, somos três travestis periféricas, e, para mim, ser travesti já é um movimento punk”, aponta a cantora. 


Com letras que transitam a linha entre humor e rebeldia, mergulhando na mescla entre os dois tons, Katy da Voz e As Abusadas vive num mundo sem censura, do nome às suas produções. E, devido a isso, elas não são para todo mundo, como conta a vocalista, relatando já terem sido criticada por pessoas da própria comunidade.


“Muitas vezes a gente já recebeu mensagens de travestis aqui do Grajaú mesmo, falando que a gente estava sujando a imagem. Elas só veem a questão cômica e acham que a gente é umas palhaças, sabe?”.

Falando sobre essas pessoas que se recusam a entender a perspectiva das Abusadas, a vocalista aponta que tenta não se incomodar com nenhum desses comentários: “Acho que o melhor de tudo é você se entender, entender a sua arte, e é isso, sabendo a sua verdade, você tem tudo”.


Atormentadas, Remixadas y Cheias de Sucesso


Depois do lançamento de “VTNC”, em abril desse ano, as Abusadas lançaram seu álbum de remixes “Atormentadas y Remixadas”, que reuniu diversos produtores do underground brasileiro. Com participação de Clementaum, Zaila e Caio Prince, e mais, o projeto simboliza a solidificação do grupo como um dos maiores nomes da noite atual.


“A gente queria trazer muito esses DJ's e produtores da cena que as pessoas ainda não conhecem, mas, vão conhecer bastante. Queríamos muito trazer eles para esse projeto para que eles consigam também colher bons frutos com o ‘Atormentadas’”.

2024 tem sido um ano de real expansão para o grupo. Seu primeiro projeto longo, o álbum de remixes, foi lançado, começaram uma turnê por boates e festas no Brasil inteiro e, além disso, também tomaram o palco do festival Hopi Pride, no final de abril, apresentando seu hit “VTNC” e cantando ao lado da dupla Irmãs de Pau.


“Desde que eu me conheço, que eu tenho planos, que eu tenho sonhos, que eu deito na minha cama, fecho os olhos, o Hopi Pride sempre foi, assim, número um, sabe?”, Katy me conta, apontando que esse curto show no festival foi um dos maiores sonhos de sua vida até agora - mas, ela está de olho em objetivos ainda maiores.


Atingindo centenas de milhares de reproduções nas plataformas digitais, Katy da Voz e As Abusadas estão em constante ascensão, e, agora, a vocalista sonha em viajar cada vez mais e em ter seu show próprio no Hopi Pride, não como participação, mas, como estrela principal.
















Editorial Credits:


Photography: @kaiocsr Model: @katdavoz

Makeup: @ict0r



Ainda assim, com muita ambição, Katy da Voz me garante que o underground vai sempre ser a sua casa e o público preferido dAs Abusadas. “O underground realmente é nosso público alvo, é o público que realmente queremos atingir”, ela afirma, finalizando ao dizer que as boates do underground serão sempre seus palcos favoritos.


“Sempre falei para as meninas 'Essas bichas aí que estão vestindo camiseta preta, um dia vão gostar da gente'”

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